A pintora mexicana Frida Kahlo teve uma vida intensa, que se refletiu na arte que produziu: o acidente com um bonde que lhe deixou sérias sequelas físicas e o casamento com o artista Diego Rivera, um eterno infiel à união conjugal. Considerada uma das maiores artistas do século 20, hoje suas obras pertencem a acervos importantes como o do Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA.
Este mês, cerca de 400 imagens inéditas da sua coleção pessoal vêm a público no livro Frida Kahlo, Suas Fotos. Até 2004, elas estavam trancadas, por determinação de Rivera, na residência onde o casal morava, a Casa Azul, na Cidade do México. Veja alguns dos grandes momentos reunidos neste lançamento.
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Frida Kahlo: suas fotos está sendo lançado no Brasil ao mesmo tempo em que chega aos leitores do México, França, Espanha, Alemanha, Estados Unidos, Canadá e América Latina. A história do livro é quase uma narrativa surrealista. Já viúvo de Frida, Diego Rivera (1886-1957), que havia criado na Casa Azul (onde Frida passou toda sua vida) um museu dedicado à mulher, deixa instruções a Dolores Olmedo para que preserve os documentos do casal, só divulgando seu conteúdo 15 anos depois de sua morte. Dolores radicaliza as instruções de Diego e só agora, mais de 50 anos depois, os segredos foram revelados. Entre os papéis estão cerca de 6 mil fotografias, que permaneceram todos esses anos trancafiadas no banheiro da Casa Azul, no bairro de Coyoacán, na capital mexicana. O livro é uma seleção de 400 imagens desse conjunto.
Mas, na verdade, é muito mais que isso. Organizado em sete partes, o livro traça a historia visual da vida de Frida, na qual uma foto é capaz de ser exemplo do sofrimento físico que a atormentou seguidamente, da poliomielite da infância ao grave acidente de bonde na adolescência, que a fez penar em tratamentos dolorosos até a morte; outra imagem revela seus amores; uma série de registros mostra a influência do pai fotógrafo em sua obsessão por autorretratos; os amigos são personagens em vários momentos, do revolucionário Trótski ao capitalista Henry Ford, do artista experimental Duchamp a Dolores del Rio. Há momentos da infância e da maturidade; de amor e sofrimento. Retratos de alma, alguns deles cortados com estilete para extirpar rostos e outros com marcas de batom para manifestar afeto vivo.
Cada uma das partes ganhou uma introdução escrita por especialistas na vida e obra da artista. São textos que trazem informações importantes e análises compreensivas de momentos marcantes da existência de Frida Kahlo. São textos-guia, legendas que resultam de um esforço em penetrar no universo das imagens, no contexto histórico e na psicologia complexa da personagem. “Origens” mostra que, além do pai fotógrafo, a mãe, Matilde Calderón, foi negligenciada nas biografias da filha, talvez em razão de sua postura conservadora. A segunda parte, “Papai”, apresenta a sensibilidade estética de Guillermo (alemão nascido Wilhelm) para os retratos, mas também para a postura intelectual cética do homem desterrado de sua cultura.
A terceira seção, “Casa Azul”, traz imagens domésticas, de amigos e da convivência com Diego, além da arqueologia dos antigos moradores da residência. Em “O corpo dilacerado”, um dos temas mais presentes na obra de Frida Kahlo ganha um realismo duro: são imagens de radiografias, tratamentos dolorosos, períodos de recuperação no leito, visitas hospitalares e composições dramáticas com brinquedos (como uma charrete tombada). Na seção “Amores” estão as fotos escolhidas de relacionamentos de Frida, que escrevem histórias incompletas, com dedicatórias misteriosas e detalhes fascinantes.
As duas partes finais, “Fotografia” e “Luta política”, reúnem documentos visuais que fazem referência às grandes bandeiras políticas da época, dando a dimensão – presente em todo o acervo – da mescla humana de fantasia e apelo à realidade. Nesse itinerário visual, o livro vai do foco fechado na alma das pessoas à grande angular do panorama de uma época.
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