Dionisíacas




Um pensamento que o Teatro Oficina sempre pregou, é o da libertação que a arte pode nos proporcionar em todos os sentidos. Neste final de semana ao participar das Dionísiacas, uma maratona de 18 horas de espetáculos, Bacantes, O Banquete e Cacilda! Estrela Brasileira à Vagar!, pude presenciar que a manifestação dessa ruptura de padrões está na estrutura e no cerne do pensamento do Oficina e de Zé Celso. Os público foi aos poucos se despindo de todos os conceitos e preconceitos e no final estavam todos nus, inclusive eu. Um transe coletivo indescrítivel que me mudou muito,  observar a relação dos atores com a platéia no teatro de estádio e a sacralização do fazer teatral me fizeram rever conceitos que nem eu sabia que tinha.

Teatro Oficina é a arte viva, um terreiro eletrônico que mostra que a arte não pode parar. A gente tem que ver, que não existe só o papai e mamãe de todo dia, existe o respeito de dar pra todo mundo e de receber de todo mundo. Faz parte do conhecimento da vida. Arte sem cabaço, em um mundo em estado de guerra, a guerra entranhada em todos os lugares, precisamos de possibilidades de entendimento dos contrários, tendo tesão pelo adversário, devorar e ser devorados. Arte crítica, inovadora, insolente, sacana, libertadora. O que o Oficina fez comigo foi transformar o Tabu em Totem, em algo bom, o melhor de nós, lambido, chupado, beijado, phodido...

Existe vários tipos de colonialismo, entre eles o colonialismo do corpo, essa estrutura moralista da sociedade reflete no corpo, onde pessoas nunca são tocadas, é necessário libertar o corpo da influência do catecismo, desse monte de verdades que nos cercam. Em transe embevecido pela ritualística, ficar "pelado" significou pra mim a descolonização do corpo abstrato, muito além do corpo físico. A arte sacralizada, arte como ritual de entrega e despojamento total, dentro desta lógica, a arte é aquele luxo que a sociedade te dá, é uma arte do ócio, que vem do cio, mas vivemos em sociedade que considera isso pecado e que não sacraliza o ritual da arte como forma de experimentação, desprendimento e pra isso é preciso ócio no sentido de se entregar totalmente à vida, e ai cai na roleta da sociedade judaico-cristã e vira culpa.
Meus ânimos se exaltam porque tudo isso me mostra que existem coisas muito maiores que a mediocridade que nos cerca, principalmente em se tratando de arte. Há uns dois anos que acompanho o Zé Celso e apesar de não ser ator e nem trabalhar com teatro, me identifiquei demais. O grande mérito da cultura é expandir a noção que temos de poder pensar as coisas de outra maneira, a falta de consciência e a superficialidade, faz com que suba na cabeça das pessoas o arrivismo daquela velha idéia da classe média emergente. Essa experimentação, já tinha me tomado de assalto com os filmes marginais, principalmente Sem Essa Aranha de Sganzerla e o cinemanovista Terra em Transe de Glauber com toda aquela compreensão sangrada da realidade brasileira. A experiência com o Oficina é indescritível, aquele transe da hora é comovente e fica aquela eufórica sensação de estar mais pronto pra vida. Foi uma bela troca, onde todos fomos cúmplices e nos beijamos, apaixonados...

Que venha o Anhangabaú da FelizCidade, a Ágora Grega que vai trazer essa revolução para as ruas de São Paulo e do Brasil.

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