Andy Warhol


"Devagar com a louça: conheci o verdadeiro
Rei do Pop (pop-art) há alguns anos, e seu nome era Marcel Duchamp.
Para mim, Andy era a Rainha do Pop..."
Ultra Violet in "Famous For 15 Minutes"


Esqueça as imagens ultra-coloridas de Marilyn Monroe ou mesmo as gigantescas latas das sopas Campbell’s. É pouco comentado, mas o excêntrico artista plástico norte-americano, Andy Warhol (1928-1987), fez dezenas de filmes experimentais, entre curtas e longas-metragens, registros de shows e de performances artísticas. Com raros DVDs disponíveis no Brasil, apenas 6 títulos lançados pela Magnus Opus, a obra cinematográfica de Warhol merece atenção. Primeiro pela ousadia estilística, que se aproxima radicalmente, em sua medula estética, das artes plásticas (como nos screen tests). Depois pela perversão de sua câmera intimista que erotiza o cotidiano e os personagens ‘reais’ - como na tríade - Flesh (1968), Trash (1970) e Heat (1972) – produzida em parceria com Paul Morrissey.

O cinema de Warhol faz jus ao espírito underground que rondava seu ateliê, o estúdio Factory. Lá ele promovia as mais ousadas festas e experimentos estéticos. Transitavam artistas, estilos, artes e sexualidades. Era comum, numa tarde qualquer, encontrar por lá os velvets Lou Reed e Nico, ou mesmo personalidades como Baby Jane Holzer, Edie Sedgwick, Joe Dalessandro, Dennis Hopper, Mick Jagger, e ainda loverboys, prostitutas e transeuntes curiosos.





































Inserido na contracultura dos anos 60, o espaço logo se tornou uma fábrica de arte underground que produzia desde fotografias em série até filminhos curtos, os intitulados screen tests. Eles captavam inúmeras faces de personalidades, como se fossem retratos-vivos. Filmados em P&B, os takes revelam plasticidade pela aparente imobilidade dos retratados. Pois, apesar do rosto-vivo-morto, podemos perceber traços emotivos dos fotografados: inibição, sorrisos tímidos (como o de Susan Sontag) e irreverência, como algumas mulheres se descabelando ou mesmo Salvador Dalí de ponta-cabeça. Os screen tests, além de embaralharem artes plásticas, cinema, performance e vídeo-arte, são interessantes experiências estéticas sensoriais.

De sua fase cinematográfica, também podemos ver um longo plano-seqüência do Empire State Building, visto como uma grande personalidade ‘arquitetônica’, fálica, filmada em sua ereção constante, do amanhecer ao pôr-do-sol. Há ainda short films, produzidos entre 1963 e 1965, que erotizam ações comuns: Blow Job (foto) flagra em poucos minutos apenas o rosto de um rapaz que tem prazer sexual; Sleep observa à distância um jovem dormindo em sua rara movimentação sonífera; Kiss (foto acima) mostra um quadro-vivo com cenas de casais se beijando; entre outros da série, como Mario Banana e Eat.

Warhol aprimorou o fetiche estético do ‘corpo em performance’ em longas-metragens produzidos após 1965: My Hustler (1965), The Velvet Underground and Nico (1966), Chelsea Girls (1966), Bike Boy (1967) e Lonesome Cowboys (1969). Com tramas banais e linguagem naturalista, o cineasta capturou, como num flash de Polaroid, o zeitgeist de sua época, em filmes voyeuristas, undergrounds, improvisados, erotizados, e com certa liberdade estética de dar inveja em qualquer estreante do Dogma 95.






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