Henry Miller



































"Não temos necessidade de gênio - o gênio está morto. Temos necessidade de mãos fortes, de espíritos que estejam dispostos a abandonar o fantasma e criar carne". (Henry Miller in Trópico de Câncer)



Nenhum escritor soube valorizar tanto a putaria como ele. Havia um rito sacro e mistérios cósmicos em cada trepada descrita. O sucesso foi imediato, e a censura também. O livro foi proibido em várias partes do mundo, e foi o que o promoveu, é claro. Na década de 30 a descrição crua do sexo, embora apaixonada e sincera, feria suscetibilidades. O livro passou a ser referência para masturbações adolescentes, e sua dimensão artística foi sufocada. Mas Miller chegara para ficar, e logo lançou "Tropic of Capricorn".


A sexualidade desenfreada

Para Henry Miller, descrever os homens em seu sexualismo extremo era uma obrigação da literatura moderna, conforme suas próprias palavras numa entrevista: "na realidade pouca revolta de qualquer espécie é permitida ao homem moderno. Ele já não age, ele reage. Ele é a vítima que, afinal, veio a ser apanhada na sua própria armadilha".

Em seus livros, Miller dá ao sexo uma dimensão sacra. Os personagens chafurdam na lama, são descritos com franqueza quase pornográfica, mas com tal naturalidade de estilo e humor que assumem uma grandeza indiscutível. A crítica literária européia saudou Miller como a culminância de uma corrente literária que remonta ao século XVIII.


A crucificação encarnada

Henry Miller tornou-se um clássico absoluto quando publicou a trilogia "Sexus, Plexus, Nexus", que ele chamou "A Crucificação Encarnada". Como nos outros livros, esses romances narram trechos de sua própria vida, embora ele negasse. Sobre seu processo, declarou: "fiz uso, ao longo desses livros, de irruptivos assaltos ao inconsciente, tais como sonhos, fantasia, burlesco, trocadilhos pantagruélicos, etc, que emprestam à narrativa um caráter caótico, excêntrico, perplexo". Tudo isso é verdade, mas também o é que Miller vivia na pândega e descrevia isso.


Bancarrota espiritual

O que faz afinal com que a literatura de Henry Miller seja forte, crua, sem ser vulgar, pornográfica? Aliás, essa é uma matéria para se colocar na discussão: o que é pornografia? Ou ainda, o que configura um texto pornográfico? Bem, Miller costumava dizer que vivemos numa bancarrota espiritual. O que ele queria dizer com isso? Que o homem se afastara de sua dimensão profunda, e só a liberação da carne poderia conduzir-lhe de volta ao convívio com a própria alma. As prostitutas, por rifarem o seu corpo com tal desprendimento, seriam as mais puras porque nada mais lhes restava que não a dimensão espiritual. Uma tese ousada, mas que Henry Miller, o americano boêmio que rolava pelas ruas de Paris, defende com brilhante prosa de ficção.

O que há para ler:

A maioria de seus livros ainda pode ser encontrada nos sebos da cidade; são eles: Trópico de Câncer, Trópico de Capricórnio, Sexus, Plexus e Nexus, Sexo em Clichy e Pesadelo Refrigerado (impressões dos EUA). 

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